Meu começo - Lojista da 25 trouxe da Síria a paixão pelo comércio
    Do maior centro comercial do Oriente Médio para o maior polo atacadista da América Latina. Essa foi a trajetória do comerciante René Djekeim, nascido em 1943 na cidade de Alepo, na Síria. Dono da Zona Livre Sports, um dos maiores atacadistas de artigos esportivos do País, ele atende varejistas de todos os cantos do Brasil e se orgulha de ser um dos mais antigos empresários da região da Rua 25 de Março.
    René chegou ao Brasil em 1960, aos 17 anos. Trinta e três anos antes, seus pais já haviam passado um temporada aqui, mas não se adaptaram. Em Alepo, Hanna o chefe da casa, tinha um pequeno comércio. A cidade Síria, aliás, era uma espécie de entreposto comercial entre a Europa e o Ocidente.

¨Minha cidade sempre viveu do comércio. Desde pequenos, aprendíamos, nas ruas e em casa, como vender produtos. É uma das primeiras coisas que as crianças aprendem lá¨.

    Mas o comércio não foi a primeira atividade da família no Brasil. Como naquela época o País ainda vivia uma euforia da conquista do primeiro título mundial de futebol, René teve a idéia de abrir uma fábrica de artigos esportivos.

¨Era engraçado, mas o país do futebol quase não se produzia calções, shorts, bermudas e camisas para jogar¨.

Com o Irmão Mauricie, René investiu em uma fabrica no bairro da Mooca.
O negócio cresceu rapidamente. Até meados de 1970, o mercado brasileiro ainda era fechado para produtos estrangeiros. A fábrica tinha poucos concorrentes. Com o tempo, passou também a revender produtos de outros fabricantes e ampliou o atendimento no atacado. Em 1984, vendeu a fabrica para se dedicar apenas à loja.
Em 1971, René e Mauricie compraram do outro irmão, Joseph, a fábrica de bolsas e cintos CIAC. A fábrica estava instalada da Rua Doutor Carlos de Souza Nazareth, na região da 25 de Março. René também fechou a fábrica CIAC e manteve apenas a loja.

¨Aprendi que indústria é um buraco. Quanto mais dinheiro coloca, mais falta¨

A loja saiu da Mooca e foi para o centro, na Rua 25 de Março, 1128, onde está instalada até hoje com o nome de Zona Livre Sports.
Nessa época, René e Mauricie já tinham uma certa estabilidade financeira, mas nem por isso descuidaram dos negócios.

  ¨Um negócio é como uma árvore. Não se pode cortar todos os galhos. É aí que as pessoas erram. Quando um comércio começa a dar dinheiro, os donos costumam desviar recursos para a vida particular. Compram casa, trocam de carro, mas se esquecem que o negócio precisa de investimento. Isso é vital para o sucesso¨.<

Seguindo essa filosofia, os negócios prosperaram até 1990. Porém,  os sucessivos tombos na economia, aliados à decadência do Centro, levaram muitas lojas a fechar as portas, René nunca se deixou intimidar. Com a entrada dos comerciantes chineses, o movimento aumentou e a Zona Livre passou a atender também o varejo. Para manter um negócio prospero por tantos anos, René ensina: dedicação e seriedade. Até nas brincadeiras, não descuida.

¨Para que time eu torço? Para aquele que mais tem camisa no estoque¨.

Matéria publicada em 2 de dezembro de 2003, Jornal o Diário de São Paulo.
Por Paula Alface.